sexta-feira, 2 de maio de 2014

Fuga do Campo 14 - Blaine Harden

Sinopse: Ele viveu 23 anos de sua vida no Campo 14, um dos imensos complexos para presos políticos, localizado cerca de 80 km ao norte da capital Pyongyang. É um distrito de controle total, para casos considerados irredimíveis, de onde ninguém sai com vida. Ao contrário de outros norte-coreanos, seus residentes não merecem sequer receber doutrinação ideológica. Sua sina é escravizar-se 12 a 15 horas por dia em minas de carvão, fábricas e fazendas até encontrar a morte em execuções sumárias, acidentes de trabalho ou doenças relacionadas à desnutrição. Quem nasce no Campo 14 está sujeito a uma condenação perpétua para sanar os supostos delitos dos antepassados. As crianças aprendem a sentir vergonha de seu sangue traiçoeiro e a “lavar” sua herança pecaminosa delatando os próprios pais. De lá, ninguém foge. Shin é a exceção. Ele sobreviveu às cercas eletrificadas da prisão e, mesmo sem conhecer qualquer pessoa no mundo exterior, deixou para trás a Coreia do Norte. Mas, além das cicatrizes das torturas que sofreu, também carrega consigo as marcas de uma infância sem amor e um terrível segredo do passado. Fuga do Campo 14 revela com riqueza de detalhes o cotidiano árido e sem perspectivas dos prisioneiros políticos na Coreia do Norte. Em um relato surpreendente e arrebatador, o jornalista Blaine Harden lança luz sobre uma realidade sinistra, que até então permanecia oculta e impenetrável aos olhos do Ocidente. Com sensibilidade, ele acompanha a impressionante jornada de Shin rumo à liberdade.
"Para os norte-coreanos que permanecem nos campos"
Fuga do Campo 14 é sem dúvida o melhor livro que eu li nos últimos meses. Trata-se da história real de Shin Dong Hyuk, que até onde se sabe, foi a única pessoa que nasceu em um campo de prisioneiros políticos da Coréia do Norte e conseguiu fugir. 
O livro foi escrito em forma de reportagem, então não é romanceado e nem sempre as coisas são contadas em ordem cronológica. Mas a narrativa é muito bem escrita e a história é tão incrível que você tende a passar horas com o livro em mãos sem nem perceber.
Acho que a palavra que mais recorreu em minha mente durante a leitura foi "chocante". Eu já li muitos livros e relatos sobre campos de concentrações nazistas, sobre os Gulags na União Soviética e sobre campos de refugiados africanos e coisas horríveis de todos os gêneros, mas acho que nada me chocou mais do que a história de Shin. Não tanto pelo sofrimento físico (E acreditem, foi grande), mas pelo que se faz com a mente das pessoas na Coréia do Norte.
"Quem está do lado de fora tem uma compreensão errada do campo. Não são só os soldados que nos surram. Os próprios prisioneiros não são bondosos uns com os outros. Não há nenhum sentido de comunidade. Sou um daqueles prisioneiros malvados."
Shin nasceu condenado, seus pais eram presos políticos e isso fazia dele um criminoso, o trecho a cima nos mostra que essas pessoas foram privadas de todos os direitos básicos, sua personalidade foi moldada por aquele sistema cruel.
"Amor, misericórdia e família eram palavras sem significado. Deus não desapareceu ou morreu. Shin nunca ouvira falar dele."
"Sua existência limitada o mantinha concentrado em encontrar comida e evitar surras."
Quando chegou à adolescência, Shin teve contato com um senhor a quem chamava de tio, que lhe falou pela primeira vez sobre algumas coisas do mundo exterior e Shin gostava especialmente de ouvir sobre comida. Mais tarde, conheceu Park, um homem instruído que havia viajado pelo mundo antes de ser preso e através dessa amizade Shin pela primeira vez, pensou em fugir do campo. 
"Enquanto trabalhava e esperava, Shin cismava sobre como os outros prisioneiros ignoravam a cerca e as oportunidades que se encontravam do outro lado. Eram como vacas, pensou, com uma passividade ruminante, resignados a suas vidas sem saída. Tinha sido como eles até conhecer Park."
Parece coisa de livro distópico não? E durante a leitura pensei muito nisso e cheguei a conclusão de que se realmente fosse uma distopia, um livro de ficção, eu diria que o autor foi extremamente exagerado, uma sociedade como essa não é crível! A forma quase milagrosa como Shin, sem conhecer nada nem ninguém, conseguiu fugir do campo e chegar a China também não parece ser real, mas é, e quando eu penso nisso eu só posso sentir um grande respeito por um ser humano como esse.
Shin ficou com sequelas psicológicas que vão durar a vida toda. Ele acha difícil encontrar um objetivo para sua vida, tem dificuldade em acreditar e confiar nas pessoas, mas apesar disso, ele procura ser uma boa pessoa, e isso é emocionante.
"Shin continua sendo um prisioneiro... Ele não consegue desfrutar sua vida enquanto há pessoas sofrendo nos campos. Vê a felicidade como uma espécie de egoísmo."
Eu espero que esse post possa convencer muitas pessoas a lerem esse livro, é uma história que todos deveriam conhecer, então, eu peço encarecidamente que leiam, e mais do que isso, levem a história de Shin e dos outros prisioneiros da Coréia do Norte ao maior número de pessoas possível, é o mínimo que podemos fazer.

3 comentários:

  1. Adriana, você não costuma dar conselhos vãos. Desconfio que logo voltarei aqui para te contar como foi a minha leitura. Olha, eu li "Jogos Vorazes", e você tem culpa nisso também viu, e quando vejo histórias como a do Shin me pergunto se a Suzanne quis escrever um livro distópico ou uma metáfora sobre o hoje. Aliás, muito da minha implicância recém adquirida com distopias vem de uma consciência cada vez maior de que o mundo no qual vivemos é qualquer coisa que não deu certo, existem pessoas que existem e parecem e parecem imaginação, existem realidades que parecem pesadelos... Eu me pego orando pelo Shin e por todos os que sofrem...

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    1. Eu sei que vc assim como eu se interessa muito pelo ser humano e questões sociais, por isso te indiquei esse livro, e tenho certeza que vc vai gostar e se chocar assim como eu.
      Beijão e obrigada pela visita.

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  2. Oi Adriana! Que bacana! Eu ainda não tinha ouvido falar nesse livro. Adorei a dica!! :D
    Desculpa a demora da visita, não estou conseguindo dar conta de tudo por aqui... :s Mas vamos, que vamos! :)
    Ahh, quanto ao livro O Dia do Curinga já li e adorei!! \o/ Os livros do Gaarder são bons demais né?
    Bjss!

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Beijos

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