Era uma vez no Fim-do-mundo.

Era uma vez uma garotinha que morava num bairro que as pessoas de outros bairros chamavam de Fim-de-mundo. Quando a garotinha foi morar em Fim-de-mundo não havia água encanada, nem estradas asfaltadas, muito menos bancos e lojas ou posto de combustível, havia uma escola, uma farmácia, um bazar/papelaria e alguns botecos. A garotinha ia com sua avó lavar roupas e pescar no ribeirão, andava no mato subia em árvores e comia muitas goiabas, sim haviam muitas goiabas em Fim-de-mundo, elas eram enormes e suculentas e estavam ali na beira da estrada para qualquer um que quisesse pegar.
Embora a cidade onde ficava Fim-de-mundo, fosse uma das maiores do estado e crescesse a cada dia, em Fim-de-mundo parecia que o progresso nunca ia chegar. Até que o asfalto substituiu a poeira e as goiabeiras tiveram que dar lugar a novos loteamentos, aos poucos a população começou a aumentar e a medida que a garotinha ia deixando para trás sua infância, Fim-de-mundo também começou a crescer, surgiram algumas lojas, postos de combustíveis e até um banco os botecos viraram supermercados, e o ribeirão já não podia mais ser chamado assim. 

Em certo ano quando a garotinha já não era mais uma garotinha, aconteceu algo que mudou a história da cidade e de Fim-de-mundo, uma grande catástrofe atingiu a área valorizada do município enquanto Fim-de-mundo pouco sofreu. Agora ter uma casa em Fim-de-mundo era algo valorizado, os preços dos imóveis subiram, e todas as imobiliárias e construtoras da cidade queriam investir em Fim-de-mundo, aos poucos em meio a vegetação foram surgindo timidamente os primeiros edifícios, haviam construções pra todos os lados. 

Num belo dia a Garotinha (que já não era mais uma garotinha) ouviu uma notícia que ela nunca imaginou que pudesse ouvir: Iriam construir um Shopping, sim um Shopping de verdade que nem o que tinha no centro da cidade, não, maior do que o do centro da cidade bem em Fim-de-mundo.A notícia animou a todos os felizes moradores, que acompanhavam ansiosos cada etapa da enorme construção que se erguia em Fim-de-mundo. Enfim chegou o tão esperado dia em que a garotinha iria visitar o Shopping de Fim-de-mundo, o Shopping de que toda a cidade tanto falava, o seu Shopping sim porque não importava se toda a cidade falava do Shopping ou se todos iriam passear nele e fazer compras nele, só a garotinha conhecia tão bem Fim-de-mundo, só ela sempre amou Fim-de-mundo mesmo quando nem se podia imaginar em que Fim-de-mundo se transformaria, para ela aquela linda construção com suas lojas, sua praça de alimentação, seu cinema, sim cinema!e a sua Livraria (sim!sim!sim LIVRARIA), eram uma recompensa por sempre ter acreditado em Fim-de-mundo. Agora Fim-de-mundo está no mapa e tem projeto na câmara municipal para mudar seu nome, coisa que a Garotinha não pode nem ouvir falar, como se agora que Fim-de-mundo é importante qualquer um pudesse simplesmente desconsiderar o fato de que um dia foi um fim de mundo.

Escrevi esse conto, ou crônica não sei bem como definir, inspirada na história do meu Bairro, todos os eventos narrados são reais, o Shopping abriu mês passado se Chama Blumenau Norte Shopping e é um dos maiores de Santa Catarina. ( Tecnicamente falando não sei se o Shopping fica no meu bairro, mas se não for, é por questão de metros.) O bairro se chama Itoupavazinha que em tupi (não sei porque o nome é em tupi ) significa rio pequeno que é o nome do ribeirão que corta o bairro. Existe mesmo um projeto para mudar seu nome para Jardim Social (parece nome de assentamento). Eu sei que é menos estranho do que Itoupavazinha, que parece mais um palavrão para as pessoas que não estão acostumadas, mas pra mim sempre será Itoupavazinha.

Segue um desenho do Shopping, não achei nenhuma foto boa dele (é muito grande não cabe inteiro em uma foto,) mas o desenho é bem real.